“Estava trabalhando no consultório do doutor Diego Baldissera durante o turno diurno e já era certo que no dia 10 de junho de 2020 voltaria a trabalhar no Hospital, à noite. Estava muito ansiosa, porque depois de cinco anos, retornaria a minha maior paixão que é o hospital, quando estou atendo as pessoas me sinto muito feliz, como técnica em enfermagem, temos um contato muito próximo com os pacientes e os familiares. E além disso, estar nos dois empregos, iria me ajudar a esquecer uma separação e também a ter mais retorno financeiro” lembra Luana Ramos.
Com todas expectativas de uma nova vida, o destino resolveu intervir e Luana, que na época tinha 33 anos, acabou descobrindo um câncer na mama direita, o nódulo tinha 1,4cm e era do tipo carcinoma infiltrante. “Sempre tive muitos cistos na mama e por isso acompanhava regularmente, de seis em seis meses. Mas naquele dia foi diferente, a doutora Clarice Prado Lopes me pediu uma biopsia em 18 de maio, o resultado demorou mais que o normal para vir, e eu trabalho com médico sei como funciona, então no dia 8 de junho resolvi ligar para o laboratório e pedi o resultado, pedi para que a secretária lesse para mim, e ela respondeu dizendo que iria enviar por e-mail, nesse momento tive certeza que estava com câncer. Quando li o e-mail que confirmou o câncer, a primeira coisa que pensei é que iria morrer, me deu vontade de vomitar, de chorar. Fui correndo para o consultório e a secretária da doutora Clarice, Adriane Zamboni, me socorreu, ligou para a médica. Tudo que queria ouvir dela é que não era verdade aquilo. ‘Te garanto que tu não vai morrer’, foram as palavras da doutora Clarice, mas infelizmente, confirmou o diagnóstico e pediu para que na manhã seguinte eu voltasse ao consultório, às 7h. No outro dia, ela me pediu ‘Luana quando vamos operar?’, respondi, hoje, porque não quero dormir mais nenhum dia com isso aqui na minha mama”. A médica explicou que precisava agendar no bloco, e que tentaria o mais rápido possível. “Dois dias depois que descobri que estava com câncer, na tarde do dia 10 de junho, estava no bloco cirúrgico, pela primeira vez como paciente, sabendo que estaria enfrentando a pior coisa da minha vida, o câncer. Minha última imagem foi de uma colega de trabalho me medicando e chorando. Tempo depois, a doutora comentou que jamais viu uma comoção tão grande no Hospital como naquele dia”.
Quando acordou, Luana teve o gesto instantâneo. “Primeira coisa que fiz foi levar a mão na minha mama e graças a Deus deu tudo certo. E me disserem que provavelmente teria que fazer só radioterapia. Mas depois, me encaminharam para um oncologista e ele disse que o tumor era hormonal e teria que fazer quimioterapia. Minha primeira reação, foi dizer que não iria fazer, porque não queria perder o cabelo, não queria ficar careca. Mas não teve jeito, quando fui raspar a cabeça essa foi uma das piores coisas da minha vida”.
A primeira quimioterapia foi no dia 27 de julho e a última no dia 16 de setembro. “Na verdade, esse foi o momento mais complicado, porque sinceramente, pelo meu porte de corpo achei que não iria aguentar o tratamento, sempre me achei uma pessoa fraca, mas encontrei muito apoio nas redes sociais e de pessoas que não conhecia direito. O carinho das pessoas me fazia bem. O Joel Bottoni me mandou mensagem de incentivo em todos os dias que eu tinha quimioterapia, isso me tirava do fundo do poço. Muitas pacientes que tinha atendido quando trabalhava na maternidade do hospital me adicionaram no facebook e começaram a enviar vídeos dizendo que ia dar tudo certo. Com todo esse incentivo fui percebendo o quanto eu era querida e também descobri uma força que nem eu sabia que tinha. Vi o quanto eu era saudável e comecei a encarar as quimioterapias pensando que não ia me afetar, e não me afetaram”.
Luana aderiu ao lenço para se sentir melhor naquele momento. “Acordava de manhã, me maquiava e colocava o lenço, fazia fotos sorrindo de alto astral e postava nas redes sociais para mostrar que eu estava bem. A única coisa que não queria era ser digna de pena”.
Em outubro Luana iniciou as radioterapias e no dia 9 de dezembro bateu o sino do final do tratamento. Em janeiro de 2021 em um exame de rotina Luana descobriu um nódulo na mama esquerda, o resultado da biopsia deu benigno, “mas minha médica achou melhor tirar e em abril fiz a cirurgia em Lajeado”. Um mês depois, Luana acabou perdendo o pai, João Vilmar Ramos. “Minha família me apoiou muito em toda a caminhada, minha mãe Isaura, raspou o cabelo comigo, meu irmão Igor, meu chefe Diego Baldissera também, meu pai não falava muito, mas percebi que ele sentia demais por eu estar passando por isso, e quando finalmente venci o câncer, meu pai morreu. Isso tudo me fez enxergar a vida diferente, porque quando me separei achei que iria morrer, depois fiquei doente e percebi que a separação não tinha importância, e quando perdi meu pai, Deus mostrou que nada é pior que a morte. Separação, doença, isso tudo tem solução, mas a morte não. A partir daí comecei a enxergar a vida de forma diferente, percebi que a vida é feita para ser vivida. E tudo que você faz pelas pessoas, se elas tiverem gratidão, irão te retribuir com carinho e dando força quando você mais precisar”.